quarta-feira

a roda da fortuna

Nunca tive opinião formada sobre o destino. Não que tudo já esteja previsto, esquematizado e sincronizado, mas talvez fora do controle. Acho difícil que alguém consiga entender tudo em tempo real, e mais difícil ainda prever alguma coisa, mas isso pode ser só um problema nosso, e não do esquema. E não acredito que tenha alguém por detrás dos panos. Mas honestamente eu vejo que essa indiferença é um derivado preguiçoso do já preguiçoso fatalismo latino que corre em minhas veias.
Sou cético em relação à autodeterminação das pessoas. Acredito nas coisas fora do nosso alcance, acredito nas micro importâncias que acabam com os grandes projetos, nas miopias dos gigantes, no moralismo dos gênios, nos joanetes da princesa.
Isso não me impede de saber (mais do que acreditar) que o trabalho é que move o mundo, que a força e a vontade são o que separam os zumbis-em-ponto-morto do resto. Em uma faixa de gradações enorme, existem dois extremos igualmente patéticos de desenxergar a realidade, o tolo que acha que as coisas acontecem sozinhas, e o idiota que diz que está no controle de tudo. Sinto um enorme desrespeito pelo falante quando ouço esse tipo de discurso, tanta pena que me aflora um paternalismo, uma vontade de ensinar. Se Newton se apoiou no ombro de gigantes, eu me agacho com os anões.
A metáfora suprema vem do mar. O marinheiro sabe que existem diversas maneiras do mar afundar quem quer que seja, não importa quão foda seja o barco ou o capitão. Mas sabe também que tem uns que duram mais tempo do que outros na água, alguns sobrevivem a muitas tempestades, e outros simplesmente sucumbem, fraquejam.

Um comentário:

nefisto disse...

ja sabia que tu é bem articulado, mas fiquei surpreso com a qualidade dos textos aqui.
muito bom. valeu.