sábado

memórias IV


Um último adendo: grande parte das minhas lembranças só se agrupam não porque tem características comuns, mas porque se opõem a outras que não as tem. Não é o fato de que eu fazia café na minha casa que me lembra dessa época, é o fato de que a Constança nunca fazia (como quando eu morava com ela) e o fato de que o Zé Eduardo nunca fazia (o que invariavelmente acontecia quando a gente morava junto). Eu posso até ter feito café na casa da minha mãe ou no Cruzeiro, mas a falta dos outros nesse outro cenário é o que o define mais forte como uma época.
Sabe deus lá que implicações isso teve (se é que teve) na minha personalidade, na minha vida, mas vivendo um exemplo extremo agora (com consequências visíveis), eu não duvido de mais nada.
Ficam então dois esboços de mecanismos em funcionamento da memória episódica, a compressão de dados pela redundância (que talvez acabe emborcando em memória semântica mesmo) e o agrupamento mnemônico tal qual nos grupos sociais (que se dão por exclusões do que é percebido como diferente). Nem de longe isso é tudo, evidentemente.

Um comentário:

Eduardo Ferreira disse...

gostei muito dessa sequência sobre a memória. tenho passado muitos dias pensando sobre esse assunto em sua maior base em relação a você.

o pedro realmente disse tal coisa? isso aconteceu? o que ele diria? e principalmente quem você está se tornando em minha mente?

isso em especial me preocupa muito, não quero uma imagem idealizada de um irmão, quero ele falho e babaca como sempre foi. mas a distância, saudades, falta de sons entre frases... torna todo o trabalho bem dificil.

p.s: eu fazia café sim seu idiota. principalmente nos finais de semana.