sábado

memórias

Minhas memórias do meu passado recente já estão ficando confusas. Uma neblina começa a tomar conta dos detalhes dos meus últimos meses em Brasília. Fica cada vez menos claro como eram as coisas exatamente, se foram tempos frios ou insuportavelmente quentes e secos; se eu tive que estudar muito ou levei na picaretagem o resto da unb; se eu passava muito tempo sozinho ou sempre estava com algum amigo.
A memória tende a desconsiderar redundâncias, porque elas podem ser armazenadas mais facilmente como simples cópias de um padrão original, o que economiza espaço. Quando você vê um video no seu computador que entre as cenas não tem nada acontecendo em um pedaço da tela, repare o quanto esse pedaço isolado não tem atividade nenhuma: ele simplesmente repete a cor (ou simplesmente não gera cor nenhuma, dando a impressão de preto) original, sem ter que ficar processando tudo quadro a quadro.
Eu tenho a impressão que a memória episódica usa um processo semelhante. O cérebro tem um espaço físico limitado, e logicamente tem que ter uma limitação na quantidade de informação que pode armazenar. Sem contar que qualquer sistema informacional precisa de um equilíbrio entre a capacidade de processamento em tempo real (memória de trabalho -antigamente chamada memória de curto-prazo no caso das pessoas, RAM no caso dos PCs, mais ou menos) e a memória de longo prazo, o que fica armazenado (provavelmente) pra sempre.
Na primeira história de Sherlock Holmes, Watson fica abismado quando descobre que o detetive não sabia que a Terra girava em torno do Sol. Na sequência, Sherlock explica com uma metáfora sobre a memória, dizendo que ela é como um sótão no qual nós vamos acumulando coisas. As pessoas simplesmente jogam tudo lá sem o menor critério. Já o detetive preferia ter poucas (e úteis) coisas guardadas, o que facilitava o trabalho de deixar organizado pra quando precisasse achar alguma coisa realmente importante.

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