quarta-feira

dos rótulos 3

Qual a tara com a idéia de estereótipos sociais?

A idéia de que parte considerável da identidade individual é composta de categorias generalizadas de exemplos experienciados ao longo da vida é extremamente problematica empiricamente. Pior ainda quando a ideia é de que a "mídia" cria estereótipos que vão definir as aspirações e motivações das pessoas.

O primeiro grande problema é teórico: afinal de contas, por que existem os estereótipos que existem hoje e não outros? O que determina os estereótipos? A explicação comum é a de que os estereótipos de hoje são frutos de um processo histórico. A verdade é que isso não explica nada. Se a subordinação de gênero que existe hoje é fruto de um processo histórico, o que causou o estereótipo de genero no passado? É um reductio ad absurdum que satisfaz mentes menos inquisitivas ou atores que se beneficiam da desinformação causada pela idéia do poder causal de estereotipos sociais (mais sobre isso outro dia).

O segundo problema é que a idéia de causação social por estereotipos nao da margem para mudancas sociais. Afinal de contas, se a identidade e motivacoes do sujeito sao causados por estereotipos socias, por que alguem desviaria do padrao estabelecido pelo estereotipo? O que faria o individuo desviar do estereotipo? E se existe algum outro fator (ou mais de um) influenciando o individuo, quao grande eh essa influencia? Maior do que a dos estereotipos? Afinal de contas, existe alguma maneira de testar empiricamente a idéia da influência dos estereótipos sociais?

O terceiro problema é visto como apenas um detalhe técnico nos circulos acadêmicos: os estereótipos sociais são falsos, pura e simplesmente. Mulheres dirigem ônibus e caminhões, homens casados se assumem homossexuais a despeito das pressões em contrário, existem milionarios negros e nem todo asiático sabe artes marciais.

Quem sabe a idéia de causação da personalidade pelos estereótipos sociais seja baseada em pessoas com problemas de percepção, com dificuldades naquela parte da mente que não só percebe o mundo mas também imagina o mundo de maneiras novas. Se for esse o caso, é fácil ver o sentido nesse grupo de idéias, elas não passam de idéias para idiotas.

terça-feira

vazios vi

o sujeito que vê, com os próprios olhos, a vida, a vida como possibilidade de aventuras, como possibilidade de relações, a vida como conhecimento, passar batido, passar do ladinho, e o sujeito conseguiu se colar na parede de modo a evitar que o trem da vida o atropelasse
...

e o sujeito ali, sentindo o trem rasgando o vento atras de si, a vida fungando em seu cangote como uma onça prestes a dar o bote, ou como uma onça bocejando depois de ter comido demais. mas a vida não é a onça, a onça é o fim. a vida era o trem, e a frente do trem já passou, se agora o sujeito tentar sequer encostar de novo na vida, vai se machucar, vai se ralar, e muito provavelmente nem vai conseguir embalo o suficiente pra subir no trem, quanto mais sentar na janela.

depois que o trem passou, fica o vazio e o vento frio sopra. no chão, ainda brilhantes na luz do poente, os trilhos mostram o caminho que vai além do horizonte, e não ha muito o que fazer que não seguir adiante, caminhando em passo bom mas sem pressa, sabe-se-lá até onde o sujeito vai ter que gastar suas solas. mas ainda é cedo, o trem ainda passa rasgando nas costas, a fumaça é escura e o barulho é insuportável.