segunda-feira

o desencanto do mundo iv

Mas é claro que meus mecanismos de racionalização já lidaram com coisa muito pior. Sou um especialista em achar defeito em qualquer coisa e não-coisa, articulável ou não. Formatura de médicos? Tem dó, essa é fácil. A gente na psicologia é praticamente obrigado a odiar médico, esse bicho obtuso que não tem a menor consideração pela relação clínica, que vê as pessoas só como amontoados de sintomas, que acha que remédio resolve tudo, e ainda por cima tem a letra feia. aff.
Discurso encorajador pros aluninhos? Que porra de professor é esse que não está reclamando da política de sucateamento do ensino, das ameaças ao sistema público de saúde inglês (que é o único público na europa, sem práticas nazistas de cobrar pra atender imigrantes e turistas), do descaso da prática médica com a relação clínica (de novo)?
O maior desencanto não foi nada disso. Uma coisa um pouco menos específica, mais óbvia, mas difícil de explicar. No Brasil, específicamente em Brasília, onde a única forma de estudar depois do ensino médio de graça é na UnB, existe uma tensão entre o orgulho de conseguir entrar e a vergonha de fazer parte da pior forma de elitismo parasita, afinal, o grosso dos estudantes poderia financiar a faculdade, mas ao invés disso é o dinheiro do povo que o faz. O mito de que "qualquer um" pode entrar tem que ser mantido, ser de elite no Brasil é vergonhoso.
Na terra da rainha não é assim. Muito pelo contrário, historicamente as universidades são um dos maiores símbolos de diferenciação social pesada (estamos falando de nobreza hereditária e aristocracia aqui) que sempre foi algo amplamente admirado e desejado. E eu pessoalmente detesto isso. É a maior inversão possível pra uma instituição que deveria ser em função do saber ser transformada em instrumento de estratificação econômica, usando o conhecimento (que pode ser multiplicado a custo zero pro benefício de todos) e sua produção não para emancipar, mas sim manter (cristalizar, aprofundar, objetivar) uma idéia de diferença de valor entre as pessoas.

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