segunda-feira

os outros

Roberto não sabe direito como ele é. Roberto só sabe que custumava ser melhor do que é hoje. Tudo era melhor antes. Os dias eram mais bonitos, as pessoas mais amigáveis. Ele mesmo costumava ser mais esperto, charmoso e bebia mais (a cerveja era mais barata). Tempo ou espaço não importavam pro Roberto, quanto mais longe pra trás melhor. A faculdade tinha sido melhor que hoje, a adolescência também, a infância então nem se fala. A outra casa, a outra cidade o outro emprego.
De vez em quando Roberto pensa que isso não pode ser assim, que hoje deve ser bom também. Depois de pensar muito ele não consegue fazer o hoje parecer melhor que o ontem, e as coisas ao seu redor sempre são piores que as que ele deixou longe. Roberto então repete um velho remédio pra sua melancolia. Liga pra alguém com quem não tem mais contato e faz perguntas diretas e cruéis. Escuta, das próprias pessoas que sente falta, os motivos de porque eles não são mais parte de sua vida. Lembra de toda feiura, solidão e banalidade. Das diferenças e da indiferença.
Roberto então se cura, não porque melhorou sua vida hoje, mas porque piorou sua vida até hoje. A felicidade pra ele vem de queimar as pontes atrás de si, sabendo que teve motivos, que não se arrepende de nada. Ou que pelo menos não se arrepende de tudo.

Um comentário:

Roses disse...

E Roberto sente que fez escolhas que lhe permitiam ser coerente. ainda que ele não dê tanto valor a essa bendita coerência.

eu gostei desse. principalmente da saudade egocêntrica e cruel de Roberto.. identificação talvez.