segunda-feira

informe publicitário 2

A bem verdade que a idéia de um remendado de escritos que só anunciassem o que seria (não hipoteticamente, mas em um definido futuro) ali esclarecido (sem no entanto nunca faze-lo) é recorrente desde que comecei esse mais humilde espaço. É muito mais fácil mencionar o que passa pela sua cabeça do que explicar a outrem os meandros dialéticos que te levaram a pensar exatamente o que você quer explicar.
Quem já foi em alguma defesa de tese (monografia, tcc, etc) sabe exatamente do que se trata. A epifania inicial do aspirante a acadêmico é atolada em considerações de forma (retórica) e da mania (no sentido psicopatológico do termo) que existe na intelectualidade oficial de sempre referenciar a si mesma (nos cânones ou pelo menos nos trabalhos do próprio orientador do autor da tese).
Não que a cura (pra continuar na metáfora médica) pra esse estado lamentável seja o abandono da tradição e a consequênte necessidade de reinventar a roda toda vez que se queira pensar sobre o que quer que seja em termos mais profundos do que o que passa na televisão. Os que tentaram seguir sozinhos tiveram idéias interessantes mas nunca foram muito longe. A originalidade pela originalidade (ou pior ainda, a "novidade" pela novidade) acaba esbarrando na mais tosca limitação da racionalidade do próprio autor -e a escrita, quem sabe a própria linguagem, é justamente o instrumento pra transcender a capacidade de uma mente isolada. Se for pra pensar sem dialogar com ninguém, não se dê ao trabalho de escrever suas idéias.
E ai de quem rapidamente ativar aquela estratégia memética (uma verdadeira neurose) conciliatória e simplista de pensar algo do tipo dosis sola facit venenum, que o meio termo é sempre a melhor opção, que existe certo e errado em tudo, ying-yang, essas asneiras que qualquer idiota entende, sendo já por isso altamente suspeitas de estarem erradas. Aqui vale até uma citação bem engraçada (sem a menor aspiração de autoridade intelectual, nunca li nada além dessa linha desse sujeito), o jornalista H. L. Mencken escreveu: "For every complicated problem there is a solution that is simple, direct, understandable, and wrong."
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E apesar de tudo isso a idéia de escrever sobre o que se vai escrever, sem no entanto nunca escrever de fato o que se prometeu escrever (exatamente) tem outra raiz intelectual: não sei se o leitor já se deu ao trabalho de ler algum desses pilares do pensamento ocidental tipo um Nietzsche ou Freud da vida, mas as minhas lembranças iniciais com essa literatura são justamente isso -esse sujeito está falando de alguma coisa que daqui a pouco ele vai deixar bem claro, quem sabe na próxima página vai ter algum quadro explicativo do que ele está querendo dizer, não é possível que essa coisa vaga seja realmente a explicação da cultura, sexualidade e decadência da tradição ocidental. Em nenhum dos clássicos existem definições claras: ninguém sabe exatamente o que significa bio-política, rizoma (o que não é das plantas), vontade de poder, pulsão de morte, orgon, signo, simulacro, etc.
Evidentemente depois de alguns anos universitários acontece um misto de insight profundo e complicidade na conspiração do rei nudista, mas ces´t la vie (como se isso implicasse em uma profunda reflexão sobre a inevitabilidade do estado de coisas e resignação estóica colorida pela obviamente falsa francofonia). Nos próximos escritos: o neoconfucionismo deng xiaopinguiano dialoga com a tradição hardcore húngara da pornografia pós-soviética, ou seja, porque o fluminense nem a pau vai ganhar o brasileiro esse ano.

sexta-feira

informe publicitário

Caríssimas duas pessoas que entram regularmente nesse lugar (e eventual sujeito que procurou "nomes escrotos" no google), em breve diversas novas idéias escritas em requinte, clareza e originalidade voltarão a ser aqui publicadas em regularidade honesta. Idéias não estão em falta, o que as vezes escasseia é a capacidade de articulação pedagógica o suficiente para o adequado consumo do leitor desavisado, que não tem a obrigação de necessariamente estar familiarizado com as particularidades do que por hábito saí da cabeça desse mais humilde autor.
A incoerência estatística dos rótulos de conduta sexual (e suas consequências semânticas no estudo da memória), o casal como unidade óptima de socialização, o sistema de benefícios sociais ingleses e a decadência atual do São Paulo Futebol Clube serão alguns dos assuntos aqui tratados no futuro próximo (beleza, talvez não o são paulo, substitua isso por alguma coisa chique como "da necessidade latino americana de uma direita política que nunca existiu em lugar algum na historia das idéias ocidentais" ou algo no gênero), assim como boas novas a respeito da minha empreitada antropológica no estrangeiro (aos interessados ou ocasionais voyeres literários).
Dito isso, evidentemente nada disso vai começar hoje, portanto, como quando noé jogou uma pomba nas as águas que ainda não tinham baixado, escrevo essas palavras para alimentar a esperança aos inexistentes habitantes do vazio.

amsterdam 3

Simples e rápido: enquanto em Amsterdam vi muitas putas em vitrines nas ruas -imagem ligeiramente instigante, tanto pelo extenso vocabulário acadêmico de gênero que os anos acumularam na minha cabeça, quanto pelo quanto as minas são gostosas.
Tu confere a carne a disposição na janela, negocia o preço, entra, fecha a cortina, performa o ato combinado, paga e vai embora. Em tese tudo sanitarizado e humanizado, mas na prática é só tu ser muito chato ou mirar uma máquina fotográfica na vitrine pra ver que mesmo aqui ainda existem cafetões, e que eles são tão gentis como em qualquer lugar do planeta.
Não consegui não ficar pensando no dia em que o corpo legislativo da cidade (ou do país, não sei) legalizou esse esquema de comercializalção do sexo, o que passou no jornal, que tipo de telefonema os políticos receberam, o que as pessoas falaram na rua. Só pelo fato da coisa durar tanto tempo me fascina, isso sim é civilização.
Enquanto lá estava tive uma idéia sensacional que aqui disponibilizo pra qualquer empreendedor. No Brasil (por exemplo) comercializar sexo é crime (a não ser que você seja autônomo, o que sempre limita o acúmulo de capital e o consequente desenvolvimento econômico da atividade), no entanto a produção de material audiovisual pornográfico não é crime. Entendeu?
Ou seja, se você montar uma organização que ofereça ao cliente a produção de um filme (ou foto, ou gravação, etc) de uma cena de sexo do pagante (o que incluiria -além do figurino, cenário e mídia- o(a) coadjuvante do ato) isso tecnicamente não é prostituição ou cafetinagem ou crime. É simplesmente um serviço de produção de pornografia personalizada.