segunda-feira

quality critic 2.1 -comecemos com a autópsia

Evidentemente falar de "atualidade" e "novidade" de idéias (ou qualquer outra coisa) é uma atividade bem frouxa, afinal, são adjetivos que significam uma relação com alguma outra coisa. Falar que uma coisa é "atual" ou "viva" porque ela ainda existe -fora dos museus ou dos livros de história- não quer dizer muita coisa. Posso falar que o cristianismo é mais atual (ou novo) que a democracia, ou que o feminismo é mais velho (e no entanto atual, ainda "existe") do que o computador, mas essas frases são tão imprecisas que acabam não significando muita coisa.
Nisso entra também um outro problema de classificar o que quer que seja como isso ou aquilo, que é um essencialismo mal feito. Falar por exemplo de uma "atualização" de uma idéia é querer dizer que existe algo em si nessa idéia que ganhou alguma diferença que não mudou sua essência. O que é essa coisa? Vou poupar o leitor (provavelmente o Zé, quem sabe o Pedro dessa vez) de muita filosofia pré-marx-nietzsche-wittigenstein e adiantar que isso é besteira. Afinal de contas, chamar a democracia grega pelo mesmo nome que o que existe hoje no Brasil -com sufrágio universal (mulheres, analfabetos, militares, maiores de 16 anos, etc), voto obrigatório, financiamento público de pequenos partidos, e constituição escrita- é um salto de fé. O computador, quando começou a existir? São nomes arbitrários, que a não ser que sejam castrados de suas aspirações poéticas com definições chatas, nos dizem muito pouco. Convenhamos, qual a "estrutura lógica" de uma idéia tão antiga -e cheia de variações- como o cristianismo? Ou da medicina? Isso não existe. Em contextos históricos diferentes, e mesmo em contextos culturais diferentes mas contemporâneos, sempre existem diversas variações nas idéias, por mais que existam mecanismos pra tentar preservar sua pureza, eles nunca funcionam 100%.
As coisas existem em contínuos, em pequenas variações que dão origem a outras variações, e algumas dessas são extintas e outras perseveram, dando origem a diferenças que as vezes nos iludem a pensar em tipos puros. Mas isso não existe fora da física e da matemática. E antes que eu me esqueça, não entendi o exemplo do éter. Que eu saiba a relatividade precisou se livrar do éter pra mostrar a constância da velocidade da luz no vácuo (porque se tivesse éter teria atrito e complicações, blablabla).

Nenhum comentário: