sexta-feira

memórias V


Então, aproveitando a brisa da memória, uma idéia um pouco mais original: a nossa própria percepção subjetiva da passagem do tempo teria um mecanismo de redundância igual ao que eu disse sobre a compressão de redundâncias que aconteceriam na memória.
Em bom português: o tempo que a gente acha que passa mais ou menos rápido depende de quanta informação nova (ou que a gente preste atenção mesmo, o que é meio automático quando é novidade) é percebida. A mesmice seria um estímulo que o cérebro nem se dá ao trabalho de ficar recordando de novo, só dá o comando <.remeter a aquela coisa gravada outro dia.>, o que consumiria menos RAM. Isso é particularmente comum quando a gente lê um texto muitas vezes seguidas, quando é difícil reparar no que está escrito em si (como os erros de grafia que se fica procurando depois de se ter escrito). O cérebro simplesmente continua mandando o comando automático <.remeter....>, o que continua levando a mente pra memória semântica (do conteúdo, significado, das idéias), ao invés de atentar pra coisa que a gente está querendo ver (as letrinhas e vírgulas).
A percepção do tempo então nunca seria exatamente de quanto tempo passou (em segundos, horas, etc), mas sim de quantos bits\tempo de informação. Faz sentido, até porque qualquer tentativa de medir o tempo é sempre relativa a alguma coisa no tempo (como a rotação do planeta, fases da lua, aquelas coisas complicadas do átomo de césio, etc). O cérebro, se não tiver algum fenômeno rítmico o tempo todo (tipo um neurônio disparando sempre no mesmo intervalo de tempo, ou um neurônio acompanhando algum outro processo rítmico, tipo coração ou diafrágma), precisaria se escorar em algumo externo. Nada mais apropriado do que algo que acontece o tempo todo na cabeça, o próprio processamento de input.

2 comentários:

Anônimo disse...

Legal. Essa idéia é compatível com a outra (lacanina) em o tempo do sujeito é lógico.

O tempo não é cronológico, ou seja, o tempo não é separável da significação. O tempo do sujeito depende da insistência de um significante qualquer até que esse significante remeta a outro significante fazendo emergir uma significaçao que me designe. Vou dar um ex esdrúxulo eu sou uma mulher. Mulher me representa até entao (feminina, orgãos sexuais etc). Mas se eu digo: eu sou uma mulher de outro homem (ou seja acrescento o significante homem) já sou uma nova mulher. Uma mulher diferente da frase anterior.
gostei de te reencontrar. beijo karen

Aloprado Plantonista disse...

E pensar que essa convenção começou com o filho de uma deus de quatro mil anos, você consegue imaginar quatro mil anos??? Blaft lá se foi nossa noção de tempo, convenção mesquinha que os homens convertem em dinheiro.