segunda-feira

crenças


Acho uma cretinice quando alguém tenta acabar uma discussão falando que é uma questão de crença. É inegável o valor que as crenças tem no pensamento -elas são os atalhos da mente. Um caminho tortuoso de questões profundas e delicadas (que bons filósofos percorrem) é cortado com a velocidade de uma moto num rali. Crenças são rápidas demais, elas acabam atropelando a razão de vez em quando. Mas o pior de tudo é que os pilotos de rali não aproveitam a paisagem, preocupados em chegar logo no fim da corrida, e essa é toda a graça de uma conversa sem nenhum objetivo.
É muito divertido lembrar as pessoas dos limites do que elas pensam, lembrar da miopia das convenções e do senso comum. Outro dia tentava conversar sobre como o sucesso comercial de um artísta pode ser um indicativo pobre da qualidade da sua obra. Nada demais, clássica discussão que acaba entrando nos méritos dos critérios, da crítica, do sistema, blablabla. Mas ao invés disso, a discussão tomou um rumo estranho, e minha tentativa de relativisar (e por isso minimizar) o dinheiro foi vista como pouco realista, e os atalhos começaram a se mostrar. "Quando se tem que comer é que importa o sucesso comercial" ou "se você tivesse filhos entenderia a necessidade de sucesso comercial" e derivados.
Primeiro eu estranhei a mudança do foco da discussão, afinal, estava bem abstratamente (e talvez isso seja difícil) falando de arte e seus critérios, não propondo a abolição do sistema monetário e suas virtudes para o indivíduo. Mas eu gosto desse jogo, e nesse pensamento, a primeira coisa que me veio a cabeça é que grande parte de qualquer "sucesso comercial" é a racionalização de gastos, e nessa visão empobrecida da coisa toda, falar em ter filhos é uma estupidez enorme pra qualquer homo economicus. Na verdade, qualquer empreendimento artístico é completamente idiota se o objetivo (somente, ou principalmente) é o tal do "sucesso comercial". Talvez o problema maior desses atalhos da mente seja o fato de que se você os leva a sério e segue em frente, descobre que não passam de becos.

Um comentário:

Constança disse...

assiste zeightgeist adenddum
bj