terça-feira

da necessidade da diferença


A capacidade que as pessoas tem de ver o que quer que seja no que quer que seja acaba revelando mais sobre o próprio falante do que do que quer que ele estava querendo dizer. Se vale tudo do outro lado do texto, esse perde a importância, o consumidor impera. Se por outro lado, a obra se fecha em si, o descolamento do autor, do contexto, do interpretante não diminui em nada sua apreciação.
As alternativas hermeneuticas de interpretação são inúmeras, e pobre daquele que sempre vê o mundo com as mesmas lentes, usando o binóculo que não serve pro pequeno, ou o micrcoscópio que não vale nada pro distante. Sem contar que nenhum dos dois muda nada no que se ouve, no que se toca, no que se cheira. As informações biográficas se amiúdam frente ao contexto histórico, que empalidece frente as demandas culturais, que são vazias sem a pessoalidade do autor, e por aí vai. Coisa mais patética do que tentar explicar o mundo com o conflito de classes? ou com complexo de édipo? ou com cálculos de custo benefício? e por aí vai.
Existe uma pseudo-solução bem popular pra esse simplismo, que é ignorar as diferenças e achar (ativamente, procurar) alguma coisa que possa ser usada como gancho conceitual pro esquema favorito de enchergar as coisas. Pequenas semelhanças são aumentadas, extrapoladas. Mesmo coincidências linguísticas viram de repente pontes lógicas, provas de que "sempre estivemos falando da mesma coisa" e outras asneiras conciliadoras. Números irracionais viram uma maneira de falar sobre a razão, mente e psicose. Sobrevivência do mais forte vira racismo. Isso sem falar nas trilhões de besteiras que abundam quando alguém fala a palavra mágica "quantico".

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