quarta-feira

quality critic 1.3

O primeiro passo na busca de uma justificativa para se escrever é o caráter necessariamente diferente que a escrita tem hoje frente à emergência do hipertexto. Escrever sempre foi um recorte-e-cole de outros escritos, de outras mentes, mas a internet deixou isso escancarado, criando a possibilidade de pontes mais rápidas, menos dependentes da cultura dos indivíduos em um momento prévio ao consumo da obra, e mais escorada na habilidade de fazer recortes e custuras no sistema de informação no próprio momento de degustação do texto. Exemplificando isso, furei uns buracos conceituais na crítica, metendo uns links neles.
A idéia de que o desenho tenha seu valor pela instantaneidade também me parece pobre. O texto pode ser formatado de modo a captar a atenção por algum artifício visual, como os monges católicos e toda a tradição da caligrafia já atestava. O desenho, por outro lado, só teve a separação estrita entre estética e "mensagem", "informacão", "narrativa", "conteúdo" no século XX. Uma corrupção da relação entre conteúdo e forma assola a arte (pós) moderna, que de repente precisa de intérpretes pra ser apreciada. O desenho (pintura, retrato, etc) é a maior vítima disso, já que as outras artes necessariamente incorporam outros sentidos ou necessidades (o texto, além de forma, precisa de conteúdo, sempre é julgado com esses dois critérios em mente; o cinema tem o som, o tempo, a atuação, etc; a música tem também inúmeros critérios, e assim por diante). O empobrecimento da pintura, que nada mais é do que uma distância exagerada entre as possibilidades de interpretação e a obra em si, a necessidade de uma bagagem acadêmica enorme para se começar a desvendar a intenção do autor (ou que, de repente, possa se conceber obra sem intenção) deixam cada vez menos populares as artes plásticas contemporâneas. Estranhamente, existem mais leitores do que nunca no mundo, e inúmeros apreciadores de blogs, em uma realidade cada vez mais afetada por esse sistema de consumo/produção de literatura/saber/crítica. Não que eu desconsidere o problema da infinitude de fontes, e de toda a desinformação existente, competindo pelo mesmo tempo dos leitores, mas 1)eu acho que isso mais ou menos sempre existiu, e se não existiu o modelo de hoje é melhor e 2)sim, isso aqui é bem modesto, sem grandes pretensões. Chame de kafkiano se quiser.

Um comentário:

Aloprado Plantonista disse...

Pedro meu caro, você realmente não precisa se diminuir em relação as capacidades alheias.
Eu teria desistido de escrever a um ano atrás, teria deixado minha paixão, você sabe que eu gosto de escrever.