terça-feira

orkut

Minha mulher me olhou, disse que eu estava com olheiras que pareciam artificiais de tão escrotas, pretas, fundas e redondas. A solidão, a falta de luz, o frio e a garçonagem estão marcando meu rosto. Outro dia chorei copiosamente vendo os melhores momentos de um jogo vagabundo do São Paulo com um timeco do interior. Chorei copiosamente. Chorei de soluçar. O futebol é o signo do que eu entendo por Brasil.
Estupefato pelo meu próprio estado lamentável, resolvi acabar com os meus problemas abrindo uma conta no orkut. Depois do trabalho, cheguei em casa e entrei naquela porra. Depois de algumas horas revendo as pessoas que eu deixei do outro lado do mar, senti um asco profundo, como são feias essas fotos, como são feias essas pessoas.
Mas depois me voltou a depressão. Fiquei me perguntando o porquê de ter feito tão poucos amigos, de ter abandonado tanta gente pelo caminho, de ter magoado tantas meninas. A vida, no fim das contas, só vale pelas pessoas que você conhece e te conhecem, o que vale é se dar bem com todo mundo. Ser parte da vida dos outros, ter ido naquela viagem, ter aparecido naquela foto da minha formatura. Fiquei pensando nos problemas emocionais profundos que eu devo ter pra ser assim, pra ter dado tão pouca importância pros outros, pra não ter me aproximado mais de mais gente, pra não ter me integrado aos grupos que agora em via em imagens tão felizes no orkut. Rolou quase um começo de delegação de responsabilidade, minha cabeça lembrando uns foras que eu tomei quando tentava ser gentil, umas vezes que foram rudes comigo, quase me vi vítima no meu isolamento.

Até parece.

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