sexta-feira

cretinices 1.2

E independente disso tudo, a própria asserção de crença geralmente é vazia. Afinal de contas, o que significa dizer que se acredita em algo? Acredito que minhas ações tem reações iguais e em direções opostas. Isso permite que as pessoas joguem sinuca, martelem um prego na parede, nadem na água. Igualmente, isso faz com que as pessoas não gostem da idéia de martelar um prego no próprio olho, usem um taco pra jogar sinuca ao invés da própria língua, e usem os braços e pernas pra não se afogar, ao invés do poder do amor universal que habita seu coração.
Mas uma corrupção moral da terceira lei de Newton faz com que as pessoas acreditem em karma. Acredito que sendo bom, coisas boas vão acontecer comigo. Não só as pessoas vão me recompensar por ter sido bom com elas, coisas inanimadas vão me favorecer por eu ter sido bom. Claro, isso funciona porque coisas boas e ruins acontecem o tempo todo, e a causa de algo tem que ser encontrada no mundo. Isso leva nego a ignorar as causas físicas e atribuir motivos morais pra realidade ser como é. Choveu porque eu menti pra minha avó. A impressora não funciona porque eu fiz o trabalho em cima da hora. Ganhei na raspadinha porque dei uma esmola pro mendingo.
Claro que crenças idiotas cada um tem as suas, e isso resulta no estranho fenômeno de contradições em como o universo deveria recompensar as pessoas pelas suas ações morais. Choveu porque eu menti pra minha avó, mas e se eu escondi dela o fato de eu ter câncer pra poupar a velhinha que está na UTI e não pode ter emoções fortes? E se eu só fiz o trabalho em cima da hora porque tava ocupado como voluntário de alfabetização de crianças carentes? E se dar esmola pra mendingos na verdade piora a situação deles porque é um desistímulo a sair dessa vida e procurar um trabalho de verdade?
A mente humana tem problemas com a aleatoriedade. Probabilidade é um inferno de aprender não porque seja muito difícil, mas porque contradiz um monte de coisas que são muito enraizadas (na nossa cultura? na nossa mente? não sei). Afinal de contas, a moeda que caiu cinco vezes seguidas em cara tem uma chance maior de dar coroa na próxima jogada, diz o senso comum. Quando não se encontra uma causa física (ou não se quer encontrar...), o jogo da realidade moral começa, e até pessoas educadas começam a latir sandices que funcionam porque ninguém questiona.

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