sexta-feira

vazios II

Quando tu olha no abismo, o abismo da uma piscadinha de volta. Mas uma coisa maneira que pode ser tirada disso e' que existe a possibilidade de voce nao necessariamente achar o abismo uma coisa ruim. Existe o exercicio zen de tentar olhar o abismo e nao pensar nada, que e' dificil. Ou entao, tentar ver algo belo em como o vazio compoe as coisas. Os limites. As relacoes. Se tudo fosse um so emarranhado, seria uma pobreza de relacoes entre as coisas, ate porque nao seriam "coisas", so' uma coisa, talvez diferenciada pelos seus limites com o vazio (esse limite nao e' o mesmo que aquele limite, o miolo e' diferente do limite, etc), mas isso e' a volta do pre-socratismo.
A beleza das coisas vem das relacoes que elas tem entre si e com o nada. Uma constelacao e' muito bela de se ver, e parece uma unidade, mas isso e' uma ilusao. Existem vazios enormes entre as estrelas, que nos preenchemos de apreciacao quando vemos que e' bonito. "Entao ele viu que era bom", como no Genesis.
A propria relacao entre duas pessoas e' uma constante valorizacao de diferencas, de limites. Gosto de voce porque voce me diz coisas que eu nao diria sozinho pra mim mesmo. Gosto de voce porque voce me faz rir. Gosto de voce porque voce e' diferente de mim. Gosto de voce porque voce me preenche. O vazio corta pros dois lados.

Nenhum comentário: