terça-feira

inside london II


O tate modern é o único museu grátis que fica aberto até tarde no sábado. Depois de uma overdose de 12 horas seguidas garçonagem (das seis da tarde as seis da manhã) só deu pra acordar e criar coragem de sair de casa pra alguma coisa que ficasse aberta até depois das cinco. Mas valeu a pena, se valeu.
Particularmente bacana nessa visita foi conhecer um pouco do autor dessa belezinha aí em cima, Yves Tanguy. O quadro me deixou particularmente perplexo pela capacidade (tão rara na arte moderna) de aliar o prazer estético com a reflexão sem a necessidade dos gigas de informação que supostamente fariam o observador "entender" ou "gostar" da obra.
Ao desprivilegiar qualquer interpretação em particular, a crítica pós-moderna exige uma postura de co-autoria do consumidor do trabalho artístico, e a arte ganha sua diferenciação do resto do mundo justamente por ser um espaço que demanda a ausência de uma visão verdadeira sobre algo. Infelizmente muitas obras falham miseravelmente em conseguir extrair algo dos não iniciados nos arcanos filosóficos (que eu deixo pra outro dia).
Não foi a sensação que eu tive com essa pintura. Eu nem me lembro o nome dela, ou a data, mas o aspecto confuso das formas que parecem com aviões, com partes lisas e aerodinâmicas, fundido com as outras coisas arrendondadas, que lembram pessoas as vezes, ou partes mecânicas, e a impressão de que elas não são realmente separadas, mas formam coisas mais complexas, me deixou pensando na mistura necessária pras pessoas voarem. Máquinas habitadas por pessoas que desempenham papéis mecânicos no funcionamento da própria máquina, obtendo com isso mais do que o propósito do deslocamento pelo ar, uma verdadeira simbiose estranha que desafia categorias limpas, interpretações únicas. Como essa pintura. Uma obra fechada no sentido de que não precisa de nada fora de si para poder ser apreciada com profundidade.
E isso foi só o que eu achei, imagina alguém entendido do assunto, ou alguém que não goste de mim a ponto de pensar em alguma coisa mais legal justamente com base em algo radicalmente diferente do que eu escrevi?

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