domingo

linguagem II

Mas as reflexoes sobre a linguagem so' me ganharam a dimensao devida quando conheci o tractatus logico-philosophicus. Nesse livrinho muito mal escrito, Wittgenstein bola uma serie de reflexoes sobre logica e linguagem que culmina no que seriam as limitacoes da etica e da estetica.
No resumao cruel, eu vou botar o ensaio que eu fiz sobre o que mais (me) importa no texto. Os numeros em parenteses sao os aforismas onde as coisas estao no livro mesmo.

A semântica, no Tractatus, se mostra na proposição, sendo a estrutura necessária para a representação do pensamento para os sentidos (3.1); na verdade, a condição de representação qualquer; é a forma na qual a representação é possibilitada (3.13), pois essa mesma não é somente um aglomerado de nomes, mas tem uma articulação precisa, uma sintaxe específica (3.141). A proposição tem também um sentido, que é sua condição de verdade em relação ao que diz representar do mundo, e ”só os fatos podem exprimir um sentido, um conjunto de nomes não pode” (3.142), e essa referência aos estados de coisas, essa compreensão (4.021) é como as significações da expressão lingüística são apreendidas e geradas. As coisas, os nomes, eles não são o mundo, e o mundo, no Tractatus, é a totalidade dos fatos (1.1). Os fatos denotam estados de coisas, e estes descrevem o mundo como um espelho, mas ao invés do espelho mostrar as regras da óptica, mostra, no caso das proposições com sentido, as regras da lógica (4.121). Wittgenstein pode dar-se ao luxo de definir que a proposição que espelha o mundo deve seguir a lógica, pois para o autor a realidade segue as regras da lógica (5.552). Os estados de coisas compõem o mundo, portanto, a proposição que não aponta isso, que versa sobre valores (ou desejos, ou angústias, por exemplo), tem que estar fora do mundo (6.41). E como as proposições mais complexas são deriváveis das menos complexas (6.126), e tem seu valor de verdade derivado destas, proposições sem sentido (sem a possibilidade de exprimir qualquer valor de verdade) não podem ser usadas na construção de proposições complexas, seriam como tijolos intangíveis. Esses enunciados de valor são os limites da linguagem.

Em uma tentativa muito interessante de manter um reduto espiritual/moral/estetico da avalanche racionalista do comeco do seculo XX, Wittgenstein cava a trincheira definitiva: ele nao tenta desqualificar os argumentos da filosofia e da ciencia, ao invez disso ele propoe que qualquer coisa que sequer fale sobre isso e' non-sense, nao tem valor de verdade ou falsidade, nao chega a fazer nenhum sentido. Genial.

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