terça-feira

generalização

Generalizar é uma das funções cognitivas mais importantes e adaptativas. Um caçador que nunca fizesse generalizações morreria de fome (como posso saber se esses rastros são de capivara? todos os rastros são únicos e distintos!). Uma criança que nunca fizesse generalizações teria muito mais chances de se ferir (como posso saber se essa tomada tem as mesmas características daquela que mamãe falou pra não meter o dedo? -e o mesmo pra fogo, facas, alturas, estranhos, predadores, etc).
Uma mente generalizante sem dúvida trás mais vantagens ao organismo do que uma mente preocupada em valorizar as particularidades do mundo. Um sistema que encaixasse as coisas do mundo em grupos baseados em algumas poucas carácterísticas (vaca tem chifres, quatro patas, dá leite) é muito mais leve do que um que constantemente individualisasse os elementos do mundo (mimosa tem chifres, quatro patas e dá leite; malhada tem chifres, quatro patas e dá leite; estrela tem chifres, etc), e muito mais rápido, apresentando ainda uma grande vantagem: se o sistema "vê" uma coisa com chifres e quatro patas, nem precisa se dar ao trabalho de ordenhar a coisa ele mesmo, o sistema já infere que essa coisa dá leite.
Lógico, generalizar as vezes leva a erros e não constrói uma imagem perfeita do mundo. Mas a seleção natural não tem nada a ver com ver o mundo como ele é, e os erros que o as generalizações causam (o lobo guará tem caninos afiados, come pequenas presas e tem quatro patas -logo é deve ser evitado como a onça) são menos fatais do que a fatalidade que é conferir uma por uma se as onças são perigosas. A estratégia generalizante não precisa ser perfeita, só precisa ser melhor do que a alternativa. (como a piada dos dois caras que passeando na floresta encontram um urso. um deles começa a correr, e o outro fala "você não sabe que é impossível correr mais rápido que um urso?" e o outro responde: "sei, mas eu só preciso correr mais rápido do que você").