terça-feira

em defesa do racismo brasileiro 1.5

Mas por que escrever sobre isso? Qual o súbito interesse sobre o racismo brasileiro?
Morando em Londres a um ano, encontrei vários brasileiros por aqui (principalmente nos diversos trabalhos, desde os tempos da garçonagem), e muito me assustou o racismo explícito no discurso desses indivíduos. O que quer que seja que ative os elementos "disfarçantes" do rbr no Brasil não parece funcionar nas pessoas aqui. Não é um simples caso de adoção do racismo típico londrino: os europeus, chineses, indianos, latinos que eu encontro aqui não são tão pejorativos e explícitos quanto os brasileiros em suas categorizações raciais (e não é por falta de oportunidades, eu pergunto essas coisas).
De repente não se apresentam mais a categorização racial (negro, preto) como um tabu mascarado por questões de classe social (como no Brasil), mas sim generalizações pejorativas sem nenhuma maquiágem. Se alguém for grosseiro no ônibus, geralmente é negro; se o bairro é de negros, é perigoso; se alguém está fedendo, geralmente não é o branco. (já ouvi barbaridades que fariam os gaúchos mais nazistas corarem, coisas do tipo "são uns selvagens que viviam em florestas").
Londres é o lugar mais interessante pra se ver o mecanismo racista funcionando porque é (provavelmente) a cidade mais multicultural do planeta. Aqui se trava contato cotidiano com pessoas de todos os continentes, e quase todos os lugares públicos são permanentemente decorados com uma fauna que parece aquelas propagandas politicamente corretas (que sempre tem brancos, negros, asiáticos, indianos, árabes, etc), parece de mentira.
Aqui rapidamente se aprende que só porque o indivíduo é branco não quer dizer que ele seja europeu, e só porque ele é da europa oriental não quer dizer que seja polonês. Ninguém diz que a menina deve ser chinesa por causa dos olhos puchados -poderia ofendê-la se ela for japonesa, coreana, mongól, vietnamita, etc. Mesmo quando se ouve alguém falando espanhol não é seguro chutar que se trata de um espanhol, porque mesmo que seja o caso, o sujeito frequentemente se identifica como catalão, galiciano, valenciano, etc. Italianos do sul e do norte frequentemente não se misturam, e aí de você se perguntar se a iraniana fala árabe (eles falam farsi).
O peculiar é que toda essa variedade e o consequente protocolo pra lidar educadamente com ela aparentemente não se aplica ao sujeito que tiver feições mais negras. Apesar da mesma variedade cultural se aplicar aos londrinos pretos (do egito à africa do sul, da nigéria à somália, incluindo o caribe) que populam a inglaterra desde o século xvi, no discurso dos brasileiros o preto que furou a fila não é jamaicano, não é marroquino, é só preto mesmo.

2 comentários:

Eduardo Ferreira disse...

Bom encerramento para sua crítica ao nosso racismo brasileito pedro. Concordei com algumas partes, como a tecla que não canso de bater sobre cotas, mas fico muito preocupado com essas comparações entre preconceito brasileiro e europeu.

Somos povos de culturas distintas, de climas e temperamentos misturados de formas distintas. Não sofremos as invasões bárbaras que a europa sofre em seu sistema globalizado presentes. Fomos colônia. Deixamos os nativos como os primeiros escravos, compramos mais de diversas regiões e fomos nos misturando e absorvendo seus costumes enquanto marcavamos com ferro e fogo.

Inserimos culturas diversas de portugueses, espanhois, italiano, japoneses (tardio), alemães, suiços... e dentro de suas pequenas vilas recebemos o modo de encarar os escravos ao modo de cada região, mesclando com o que tentamos falar como "nosso".

O preconceito é burro. Mas a muitos séculos atrás ele era a certeza que manteria uma cidade livre de invasões pelo mesmo medo que levantou portões e criou exércitos.

Esse nosso preconceito brasileiro é idiota no sentindo de tentar ser desmetido ou "curado". Isso não existe e nem sequer vai acontecer tão cedo. Somos covardes. Somos animais que tentam ser bairristas tendo cada quinhão de espaço a sua volta sendo dividido cada vez mais. Somos vilas obrigadas a viverem sem fronteiras e tivemos pouco tempo para assimilar isso.

Entendo o preconceito e entendo as tentativas patéticas de governos que tentam acabar com ele. Mas ainda sendo uma minoria presente do mundo moderno:

"Homem, branco, hetero, morador do plano piloto"

Fico mais tranquilo em saber que algumas pessoas podem evitar apedrejar um cara por ser negro, um cara segurar seu desejo e não estuprar uma mulher ou um grupo de pessoas evitarem formar um montinho e matar um cara por ele escolher dormir com homens por existir um grupo de leis defendendo-os.

Mesmo acreditando que alguns poucos se importam com elas e mais com sua liberdade.

Constança disse...

olhos puchados nao é com x?
mano gringo esquecendo a ortografia, alias, nem deve saber a nova. hehehehehe