segunda-feira

em defesa do racismo brasileiro 1.3

Mas se no racismo brasileiro existem esses mecanismos "limitantes" isso não significa que o preconceito racial não produza a divisão social que existe. Se é difícil falar em quem é preto ou branco no Brasil, não é difícil falar que a elite é mais branca do que o povão, que os universitários são mais brancos que os analfabetos, que os políticos são mais brancos do que a população carcerária.
A hipótese de que o rbr não permite o discurso ainda o deixa livre pra agir por meio de indivíduos, como os empregadores que decidem quem vai conseguir as vagas ofertadas, como os professores (que têm em suas expectativas uma influência dramática na educação dos alunos), como os eleitores na hora de votar secretamente num candidato. Gostaria que não fosse preciso mencionar os policiais e seus critérios de tratamento, mas é o exemplo mais patente de como o racismo, mesmo sem estar escrito em lei nenhuma, é dramático nos efeitos que tem na população menos branca.
Fazendo as contas, esses exemplos simplórios já dão um sisteminha perverso de exclusão social, afinal indivíduos em um grupo que é menos educado, menos contratado, mais policiado e menos eleito tem muito menos chance do que alguém menos preto teria nas mesmas situações.
É aí que entrariam as políticas de cotas. A idéia é de reconhecer esse preconceito informal e contrabalancea-lo com "incentivos" institucionais voltados aos menos brancos. Tratar todos como iguais, sendo que eles são desiguais situacionalmente (por conta de contigências do mundo, não por serem desiguais em si), é idiota como tratar enfermos em uma sala de emergência por ordem alfabética, e não por gravidade do problema.
Existe uma diferença entre a admissão de que pessoas chave são racistas (como policiais, professores, empregadores, etc) e que isso pode ser balanceado com uma política de cotas pra indivíduos do grupo discriminado, e a idéia de que os integrantes de um grupo foram discriminados no passado (e escravisados, e humilhados, e chacinados, etc) e que isso pode ser corrigido "compensando" indivíduos que se dizem herdeiros desse grupo hoje. A segunda idéia é estapafúrdia porque pressupõe uma união entre todos os beneficiários da ação afirmativa (cotas universitárias pra negros, por exemplo), formando uma "coisa" que pudesse ser compensada hoje pelas ações que essa mesma coisa sofreu ontem. Além de não fazer sentido, esse modo de ver o mundo permite ingenuidades do tipo "barack obama ganhou o nobel da paz, isso é uma vitória pros negros do mundo". É, muda muito o cotidiano do preto tomando um baculejo na periferia.
Na verdade, nem as cotas raciais universitárias mudam nada pra esse cara do baculejo, as cotas vão aumentar a chance de um pequeno número de indivíduos (que se dizem pertencentes a esse grupo) de obter um canudo que aumenta a chance de serem contratados em algum emprego que pague mais. A idéia é que (na melhor das hipóteses) com o tempo esses indivíduos e seus descendentes (contanto que continuem a ser percebidos como "menos brancos" ou discriminados) ocupem mais posições chave (de professor, político, empregador, etc), e que suas histórias de sucesso minem as concepções preconceituosas dos racistas (brancos e pretos), acabando com a idéia de diferença racial (que no entanto continuaria a existir no papel de lei das cotas).

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