quarta-feira

os outros 11

Ranulio era um sujeito discreto. Os últimos anos lhes foram generosos, perfeitos até, diriam mais tarde. O emprego na repartição era praticamente facultativo, não havia nada que sua chefe pudesse fazer. Em um fim de tarde a coitada aceitou tomar um chope, duas horas depois não se lembra se aceitou, mas o fato é que estava num motel com Ranulio, que não se fez de rogado e comeu-lhe o cú sem pedir autorização. Gentil, mas sem convite.
Desde então desenrolou-se aquela relação de submissão moral, onde por mais que Ranulio desdenhasse do emprego, Tercila não tinha como reclamar. Casada com o desembargador (chefe do seu chefe), não podia arriscar o escândalo. Não tinha sido uma noite qualquer, tinha dado o cú, inédito pro próprio pai de seus filhos, que incidentemente também era quem lhe empregava.
Ranulio tinha plena consciência disso, e na verdade -diriam os cínicos- já tinha tudo planejado de antemão. E de fato era a verdade. Cinco anos de cadeia ensinaram muito coisa, mas a autoridade que é conferida a quem come um cú foi de longe o que mais marcou Ranulio. O caso é que ele realmente nunca tinha tido a oportunidade ou interesse em ninguém que tomasse na bunda como algo natural. Não tinha culpa das próprias crênças, e viveu feliz sem fazer mal a mais ninguém até venerável idade.

Um comentário:

Eduardo Ferreira disse...

hehehe... muito foda. mandou bem Ranulio.