domingo

livros iii

Mas a decisão de limar parte da literatura do meu cardápio foi consciente. Durante algumas semanas eu estive com uma cópia do em busca do tempo perdido do Proust. Eu tentei ler o livro algumas vezes, consciente da importancia literária da obra e tal. Mas que porra chata.
Um dos obstáculos ao meu engradecimento cultural era um tijolo de contos do Rubem Fonseca que ficava sempre perto do livro do Proust, me olhando com uma cara sacana que dizia: além de falar sobre coisas mais interessantes, eu fui escrito por alguém que queria ser lido, e não como um experimento fenomenológico impressionista versando sobre o banal. O resultado provavelmente desagradaria o próprio Rubem Fonseca, que desgraçadamente culto como é, deve gostar muito mais de Proust do que das próprias coisas que escreve. Mas eu discordo. Obina é melhor que Eto´o pra esse caso também.
Esse é um exemplo covarde, já que o conteúdo de um é imensamente mais cativante do que o do outro, mas a base da decisão é uma questão de forma. O fluxo de consciência mnemônica proustiano não é pra qualquer um, um derivado intelectual de um ramo da intelectualidade continental que me desagrada profundamente -a fenomenologia husserliana- que vai acabar dando margem pra heidegger, lacan e outras desnecessidades pseudo-intelectuais que os pouco inteligentes ou desonestos gostam até hoje em dia.
Beleza, talvez pouco inteligentes seja um tanto forte, mas o que falar de uma tentativa de obscurecer o discurso ao invez de debater claramente idéias? Nada contra essa estratégia discursiva ser usada em contextos típicos, como na fala religiosa, mística ou totalitária (ou na conquista, no xavéco, no golpe), mas quando a proposta é discutir o universo a vida e tudo o mais, fica bem pouco diferente de charlatanismo ou burrice.

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