quarta-feira

livros ii

As Viagens de Gulliver deveria ser mais importante do que é hoje. Melhor ainda, deveria ter sido mais importante desde sua publicação até hoje. É dificil evitar dar uma de Pierre Menard, mas é surreal o quanto o texto adianta questões antropológicas e políticas (as primeiras ingenuamente, as segundas bem intencionais) que só seriam resolvidas 300 anos depois, ou nem isso. Swift é melhor que Malinowski é só o que eu tenho a dizer. Swift é melhor do que Sapir-Whorf. E por último e mais glorioso ainda, Swift é melhor do que relativismo cultural e a guerra ao terror juntos.
Talvez seja esse o problema desse texto, o quanto a ironia (e a auto-ironia) só sejam realmente apreciados em uma leitura pós-moderna. Morra de inveja Nietzsche, esse é um cara que realmente nasceu póstumo.
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E Conrad? Ora, Conrad é foda. No melhor exemplo do que a Inglaterra é hoje, o maior escritor vitoriano (em inglês) tinha que ser um polonês. Dizem as más linguas que inclusive tinha um sotaque indecifrável, afinal, aprendeu inglês como a terceira lingua -e deve ter aprendido à bordo, que nada mais era do que a garçonagem da época.
Conrad faz um truque barato de te dar a impressão de que o mar revela o caráter das pessoas, de que a fibra do que somos feitos só se revela sobre a tensão de um barco. Mas é mentira. É Conrad o tempo todo. Pense num Melville sem o cristianismo, sem a culpa de não ter sucesso e dinheiro, sem ser americano. Conrad vê o absurdo e segue seu rumo, ele não é uma afronta metafísica ao divino, ele só é. Como o mar. Existe um pragmatismo náutico que deixa claro que ele não viajou muito a bordo de um navio, ele fez isso e capitaneou também.
Lorde Jim, Tufão e Falk. Depois, se quiser relaxar assista de novo Apokalipse Now, mas tenha em mente que o Coração das Trevas é bem diferente, diferente no sentido de ter mulheres importantes. Não recomendo ler no original, os termos náuticos são abundantes e obscuros.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sim, realmente Swift é foda. As viagens de Gullver é um dos melhores livros que já li, e um dos menos aproveitados pela humanidade. Cada episódio em particular é uma perspectiva diferente sobre a humanidade. Gulliver é um aventureiro que nunca quis se aventurar, e se horroriza a cada momento com o que vê. É absurdamente frágil e chegamos a nos perguntar como conseguiu sobreviver a tantas intempéries. Ele é destinado a ver o que viu. e, ao final, sua conclusão sobre os homens, ou suas alegorias nos habitantes das terras absurdas que visita, é que seria mais feliz entre os cavalos. É genial. Tenho planos pra esse livro no futuro. Pedro, vamos conversar.

Gabriel M.