domingo

da imprensa iv

O governo, por sua vez, reage ao movimento da grande mídia com as medidas típicas de qualquer aparelho de poder: ameaça o uso da censura e da ação direta. Da mesma maneira que a grande mídia sofre as consequências das suas práticas cristalizadas em uma situação social diferente, o Estado é o mesmo que tinha (e tem) uma série de mecanismos de repressão à liberdade de expressão mais "adequados" ao periodo ditatorial do Brasil.
Governo nenhum nunca é interessado em fiscalização e na livre circulação de idéias (incluindo os frutos podres dessa fiscalização), menos ainda em um país que ainda nutre tanta polarização ao redor de pessoas políticas, ao invés de práticas políticas. Fiscalização serve pra refinar práticas, mas no processo acaba derrubando pessoas.
O oligopólio midiático no Brasil serve pra justificar a idéia de uma verdadeira imprensa golpista, que mereceria o uso da coerção legal para se adequar aos "interesses sociais". O governo convenientemente nunca esclarece quem é esse tal de social e quais são seus interesses, porque obviamente isso não existe. Mesmo que o povo (eu e você e os habitantes do Paranoá) pudesse exercer algum controle sobre a mídia, isso teria de ser mediado de alguma forma institucional que julgasse os méritos de cada demanda do interesse social, e obvío que quem faria esse julgamento é o própio governo. Todo governante adora o povo que quer ele faça exatamente o que ele já queria fazer desde o início.
Mesmo ações com aparente mérito histórico (como o caso da ley de medios Argentina) e raciocínio econômico (como evitar monopólios que são ruins pra economia e pra democracia) são vítimas da suas raízes institucionais (repressivas) que não entendem que os meios de hoje (como a internet) possibilitam ações muito mais eficazes, que inclusive respeitem a liberdade de se opor ao governo (e a democracia, qual o problema disso também?).
Muito mais efetivo do que determinar por lei o tamanho ou o que pode dizer a grande mídia é dar condições estruturais para a desimportância dessas mesmas instituições. Isso já está acontecendo, graças a popularização da internet e do conteúdo gerado localmente. Blogues políticos já rivalizam jornais, reportagens da Globo e anúncios do governo federal são criticados feroz e instantaneamente em redes sociais. A medida que esses meios se disseminam mesmo para as camadas mais pobres do estrato social abre-se finalmente um caminho para a liberdade de imprensa. Isso sim é controle social.

2 comentários:

Eduardo Ferreira disse...

gostei bastante desse argumento pedro. o que achei que ainda ficou de lado é o fato de 16 milhões de brasileiros não saberem ler. mesmo a mídia de internet, com suas publicações em vídeo, deixam de lado esse porcentual que também vota e ouve o lado que melhor lhe cai aos ouvidos.

mas achei um excelente material.

Unknown disse...

Bem lembrado pelo Zé. Enquanto 6% dos eleitores são analfabetos, apenas 3,8% tem ensino superior.

Me surpreende essa Lei Argentina, uma vez que lá, assim como aqui, o governo também tem a grande mídia como oposição.

De fato a única saída parece realmente estar na inclusão digital da população, o que não necessariamente garantirá que o Globo.com deixe de ser o site de notícias mais acessado. Pelo menos ele tenderá a ser mais contestado.

A grande questão não está apenas em quem produz as notícias, mas sim a produção exclusiva de notícias de mão única! A comunicação de massa sempre foi autoritária nesse sentido. Quem nunca se perguntou quem seleciona as cartas do leitor publicadas na Veja. Ora, se é a própria Veja, não há garantia de comunicação, e sim de um discurso frente a uma platéia muda. (ou reféns bem comportados)

Se a internet se mantiver permitindo a expressão e exposição gratuita de livre opinião, talvez tenhamos em breve um poderoso contrapeso na balança da grande mídia.

(vale lembrar que ainda não foi desta vez que a internet mudou o rumo da campanha política. A TV brasileira segue fazendo suas vezes de teletela.)