domingo

da imprensa iii

As notícias mais gerais, globais ou abstratas (em sumo, a grande mídia) podem ser tratadas de uma infinitude de maneiras. Quer ler sobre a crise financeira? pode-se escolher entre um colunista que tenha uma visão keynisiana sobre a coisa, ou um ardente libertário de mercado, ou ler sobre o mesmo assunto em um panfleto marxista-stalinista. O assunto é tão desapegado do cotidiano da maioria das pessoas que fica difícil inventar algum critério que justifique escolher uma visão sobre a outra. O critério é o gosto de cada um.
E por que seria diferente? A notícia é um objeto de consumo como qualquer outro. Algum ingênuo poderia até dizer que a notícia serve pra informar sobre as coisas. Mas almoçar serve pra alimentar o sistema digestivo, e não é por isso que as pessoas escolhem sempre a refeição mais nutritiva: como tantos objeto de consumo, trata-se de uma questão de gosto. E as pessoas comem (quando podem) o que gostam, do mesmo jeito que procuram ler/ouvir/assistir o que gostam.
Por muito tempo no Brasil o acesso (em termos de poder aquisitivo) à mídia impressa foi restrito a uma camada da população que partilhava uma visão de mundo que pudesse justificar a bizarra situação de privilégio na qual a imensa maioria passava fome e uns poucos tinham dinheiro até pro jornal. Obviamente entre essa freguesia não iriam prosperar publicações dissoantes dessa visão de mundo (quem as compraria?), e como não havia mercado que não esse, a grande mídia hoje não passa da mesma velha coleção de publicações feitas para justificar que poucos tenham muito enquanto muitos tenham pouco.
Nos últimos anos a situação econômica e as práticas do governo federal tem começado a alterar esse quadro de desigualdade, e em particular o governo Lula foi altamente identificado com esse movimento, assumindo um discurso que não só propõe a mudança do quadro social de sempre, como também identifica explicitamente quem eram os defensores ideológicos daquela situação. Esse quase conflito direto levou a uma reação normal da grande mídia, que usa o que pode para minar a continuidade das práticas que a cada dia diminuem a sua importância, que criam espaço pra outras formas de ver a política e que quebram o seu monopólio sobre o mercado, não porque diminuem os consumidores, mas justamente porque aumentam (e não estão comprando jornal).

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