sexta-feira

inside london ix.2

Aqui não tem horário eleitoral gratuito. Aqui não tem lei seca antes da eleição. Aqui não tem proibição de boca de urna no dia da eleição. Aqui não tem carro de som. Ninguém distribue aquelas camisas de candidatos que sempre viram pano de chão. Os panfletos são mínimos, em geral entregues em casa e não na rua.
O texto dos panfletos é o que mais chama atenção. Lembra aquele clichê que a gente sempre ouve no brasil, "nenhum voto é desperdiçado", "não desperdice seu voto, ele sempre conta", etc? Então, aqui é ao contrário, os candidatos falam explicitamente "candidato tal não tem chance nesse bairro, não desperdice seu voto nele". Como não existem as complicações de proporção de votos por partido, coalizão e os cálculos (que ninguém conhece direito) pra obtenção de verbas públicas, realmente todo o voto que não no vencedor é literalmente desperdiçado.
Esse ano a eleição foi uma coqueluche para os padrões ingleses: pela primeira vez na história inglesa os líderes dos três maiores partidos participaram de debates televisivos. Tudo bem que eles já sabiam quais as perguntas perguntadas, e que a platéia não podia se manifestar (com palmas, gritos, etc), mas enfim, foi uma sensação pro país que tem inúmeros "reality shows" ver os candidatos submetidos ao mesmo formato.
Assistindo os debates é fácil ver a estranha paisagem da política inglesa: candidatos que não sorriem muito, não começam dando "boa noite", não tem nenhum carisma com o indivíduo os assistindo. Essa falta de retórica e apelo de massa explica o fenômeno Tony Blair, e eu me assusto com a ingenuidade da classe política para com a possibilidade de ser tomada por um movimento populista que saiba explorar esses vazios, mas enfim, o sistema impede muita inovação mesmo -boa ou ruim.
O concenso entre as políticas partidárias são (como em qualquer país ocidental hoje) são muito maiores que as diferenças, mas um concenso que diz muito sobre a política inglesa (e o eleitor não londrino) é visto logo na primeira pergunta do primeiro debate (4:30 minutos do video) é a necessidade de controlar a imigração. Mais totalitário que isso só propondo a construção de campos de imigração (immigration camps), mas enfim, é só a minha opinião.
A maior questão dessa campanha ilustra ainda mais a distância da política normal brasileira- os partidos discutiam basicamente onde e quando eles iriam cortar nos gastos do governo (dada a crise). O partido trabalhista falava em cortar mais gradativamente, o conservador em cortar agora logo, e o social democrata alguma coisa entre isso. Minha imaginação limitada não consegue nem conceber um candidato a alguma coisa no brasil se elegendo prometendo cortar algum serviço público, mas aqui é assim que funciona, eles competem sobre os cortes.

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