quinta-feira

inside london ix

Duas semanas atrás eu votei numa escola aqui perto de casa. Eu adoro eleições, mas foi impossível não ver nesse humilde evento o abismo de diferenças culturais que existe entre brasil e grã bretanha. Chamar isso aqui de democracia é uma licensa poética. Me explico.
Aqui, como o leitor alfabetizado sabe, reina uma rainha sobre duas casas legislativas (que também são executivas, não tem a famigerada separação de poderes como no sistema americano). Uma dessas é a "house of lords", que não tem membros eleitos, eles são apontados por gente importante e tem cargos vitalícios e hereditários. Eles votam coisas e tal, mas são submetidos à segunda casa, a "house of commons", essa sim com membros eleitos. "Eleitos" no sistema inglês, que é radicalmente diferente do brasileiro. Cada distrito eleitoral (tipo um bairro ou cidadezinha) elege um dos 650 ministers os parliament (MPs), o sujeito que ganha a maior parte dos votos no seu distrito se elege, independente de quantos votos isso foi, pode ter sido 70%, 40%, 12%, tanto faz, contanto que tenha sido mais do que o segundo mais votado. Não raro acontece da maioria dos eleitos não refletir a maioria dos votos no país, e isso é particularmente eficiente em limar partidos menores, que não conseguem concentrar votos em um só distrito, mas sim um tantinho em cada canto do país (como o partido verde inglês, ou o BNP, british national party, o partido facista inglês).
Como esse sistema acaba consolidando a existência de dois partidos fortes, na inglaterra de hoje eles são o partido conservador (apelidado carinhosamente de Tory) com 305 MPs eleitos, e o trabalhista (na atual configuração igualmente carinhosa conhecida por New Labor) com 258 eleitos. Outro partido grandinho é o partido social democrata (sem apelido), que conseguiu 57 cadeiras. O gráfico ajuda.
Com um total de 650 cadeiras, a não ser que algum partido consiga pelo menos 326 (50%+1), ninguém tem uma maioria clara. Isso na política inglesa é uma desgraça enorme, eles tem até um nome pra isso, chama "hung parliament" (tipo "parlamento na corda", pendurado, etc). Se você acha que a política é a arte das alianças e negociações, dos toma-lá dá-cá, aqui não tem nada disso. O mercado entra em pânico só pela possibilidade de não acontecer uma maioria clara, e os panfletos políticos e jornalistas pregam o apocalipse se um partido não conseguir a maioria, o governo seria fraco e indeciso, e isso é intolerável.


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