sexta-feira

inside london vii: a garçonagem invade a educação

Então, seguindo os passos da minha mulher agora eu também trabalho como professor assistente (teaching assistant). Funciona assim: quando por algum motivo a escola precisa de um adulto a mais em sala de aula -seja pra dar uma atenção extra a alunos especiais que tenham down ou autismo- ou simplesmente pra ficar de olho nos mais pestinhas, eles ligam pra essa agência que manda pessoas como eu pra ir quebrar o galho.
Paga bem, o dia corre rápido e ainda dá margem pra tirar mais um troco a noite no telemarketing. Mais que isso, ainda dá pra dizer (aham) que tem alguma coisa a ver com aquela coisa que eu passei cinco anos e meio estudando. Um pequeno preço a se pagar pra não ter que viver em Brasília trabalhando pros mesmos chefes dessas figuras adoráveis do video.
Desobediência civil (de servidores públicos) à parte (mais sobre isso depois), o que esse trampo tem me permitido ver da educação inglesa me deixou muito surpreso. O sistema aqui é bizarro, pra dizer o mínimo. Existe uma ênfase maluca em disciplina e preocupação zero com a qualidade dos professores. O próprio emprego de leigos bem intencionados (como eu) é uma amostra do descaso institucional que a educação sofre aqui. Afinal, as pessoas ririam de um hospital que recrutasse enfermeiros ou médicas de agências que não exigem nada além de uma ficha criminal limpa.
Pra ser honesto, existe um curso formal e toda uma burocracia pra poder ser "oficialmente" um professor na inglaterra, mas como tudo nesse país, ninguém sabe exatamente como funciona, e a variedade de maneiras que existem pra obter a licensa pra ser um professor não ajudam a entender a coisa.
Uma coisa no entanto é fato: o requerimento mínimo pra obter uma dessas licensas é o equivalente ao ensino médio brasileiro, e se você já tem "experiência como professor" (como eu estou tendo agora) o curso dura consideravelmente menos (mas o máximo nunca passa dos dois anos).
O resultado é óbvio mesmo pra quem nunca ouviu falar em cultura institucional -um leigo que "aprenda" na prática com colegas cansados e igualmente destreinados obtem todos os vícios e desilusões vigentes do sistema, e depois em um cursinho de alguns meses algum outro desiludido finge que ensina alguma coisa diferente, ou pior ainda, um acadêmico que nunca trabalhou em campo prega idealizações que serão rapidamente descartados pelo senso de "experiência" do leigo.
Adicione o fato de que as coisas já são assim tem um tempo: aparentemente desde que chegou ao poder, o New Labor teve como compromisso com a educação simplesmente encher as salas de aula com adultos (até agora todas as salas nas quais eu trabalhei tinham pelo menos um professor e dois TA), o que evidentemente não melhora em nada a qualidade da educação, mas apela pro senso comum de que menos alunos por professores seria uma coisa boa.
No fim das contas, a baixa formação exigida, a baixa remuneração e a terceirização dos professores leva a um descaso institucional e pessoal com toda a educação. Se o "educador" não passa de uma bengala que é usada cada dia em um lugar diferente, sem planejamento nenhum, e todos os seus colegas profissionalizados advém da mesma cultura -de tratar o trabalho em sala de aula como os garçons tratam os jantares nos quais trabalham em Londres: só um bico que nunca exige mais do que estar presente na hora combinada, o resultado não é difícil de prever.

3 comentários:

Piotr disse...

então quer dizer que não estamos tão mal assim...é isso?

ou o mundo todo está ruim?

Eduardo Ferreira disse...

zela isso heim?

Roses disse...

Acho q o mundo todo está ruim! mas por essa descrição, definitivamente a terra em q reside nosso amigo não é exemplo!