terça-feira

garçonagens: psicoreceita

Inventei um joguinho mental pra não me abalar pela trilha sonora do buteco.
Imagino que estou na festinha -não sei de aniversário de 13 anos, ou pior, uma dessas festas desconfortáveis que todo mundo sabe o motivo do porquê mas ninguém fala a respeito. A dona da festa é a Juju. Ela está carequinha e muito pálida (não sei se branquinha ou negra pálida, não sei qual dá mais dó), já perdeu até as sombrancelhas -mas sua mãe as desenhou com maquiagem pra festinha. Juju tem leucemia. O segundo transplante de medula, duas semanas atrás, também foi rejeitado pelo seu corpinho frágil. Juju dança com as amiguinhas, todas terminando a infância, prontas pra entrar na parte da vida que toda menina dessa idade tanto anseia, mas nenhuma mais do que Juju. Ela, por algum motivo que eu ainda não consegui ter claro na minha mente, me considera um convidado de honra, e frequentemente vem ao meu encontro ver se eu estou gostando da festinha. Eu, com um copo plástico de guaraná quente na mão, não tenho como não sorrir e balançar a cabeça. Juju está particularmente orgulhosa das músicas que tocam na sua festinha, passou a semana inteira escolhendo junto às amiguinhas.
É desse jeito que eu me engano pra compreender e aceitar a trilha sonora do buteco. Funciona. Outro dia quase comecei a dançar sozinho.

4 comentários:

Eduardo Ferreira disse...

caralho... huahuahauaha. pobre criancinhas... sempre servindo de exemplo.

Gabi Pelli disse...

Que bonito isso, Barahona. Quase chorei aqui no trampo. Hehehe


Saudades,
Gabi

Gabi Pelli disse...

Ei, meu pai se chama Eduardo Ferreira!

Piotr disse...

acho que você está começando a ficar maluco...