sexta-feira

john lennon on benefits

A segunda metade do seculo xx na inglaterra viu a emergencia de uma serie de tentativas do Estado de melhorar a vida da população pobre da ilha. Em 1949 foi criado o NHS, o sistema universal de saúde publica ingles. Ao longo dos anos 40 se intensificaram várias iniciativas de moradias populares, imersas no ideario comunista politicamente falando e no modernismo em termos arquitetonicos. Dinheiro trasferido diretamente para familias que tivessem filhos (universalmente, sem distincao de renda) ilustravam a ideia de "beneficios universais", uma politica que era planejada pra combater a ideia de que servicos para os pobres acabam se tornando servicos pobres. Aposentadoria e seguro desemprego providos pelo Estado completavam a rede. Isso sem contar com todo o pessoal que o governo empregava com os servicoes publicos e parcelas subsidiadas da economia (como mineracao, industria pesada como manufatura de navios, forcas armadas, etc).

50 anos depois existe basicamente o mesmo modelo de assistencia social. Os milionarios ingleses recebem do governo o mesmo dinheiro por filho do que imigrantes que acabaram de se legalizar no pais. Familias vivem em monstruosos blocos habitacionais do governo a gerações por conta do contribuinte. E quando não há espaço suficiente nas acomodações erguidas pelo governo, o Estado paga o aluguel de alguma casa grande o suficiente (mesmo se for em um bairro grã-fino). Além dos impostos habitacionais (tipo IPTU) por conta. Existe o seguro desemprego (que pode durar para sempre) e outro com um nome muito legal, "jobseeker's allowance" (traduzindo vira "mesada de quem esta procurando emprego"). Além, claro, das aposentadorias por invalidez, tanto fisica quanto psicológica. Tudo isso em um cenário onde a educaçãoo (ate antes da faculdade) é gratuita, o mesmo pra saúde (o que inclue até os remédios).

As reformas neoliberais dos anos 80 da Tatcher desmontaram a parte pesada do Estado, como a mineração subsidiada e o monopólio do governo na telefonia, mas deixou intactos os serviços básicos e a rede assistencialista injetada direto no bolso dos beneficiados. Algumas lacunas deixadas pelo Estado foram preenchidas pela iniciativa privada (mas não todas, mineração e industria pesada praticamente desapareceram na ilha) justamente por responderem bem as pressões do mercado, mas o que fazer com uma crescente mão de obra destreinada e que ja consegue tudo o que precisa pela mão do governo?

Quando a economia inglesa voltou a bombar no final dos anos 90 a resposta veio do continente, (que é como se chama o "resto" da europa aqui na ilha) com a livre circulação de individuos dentro da união eurpéia. Não foi so de portugueses, gregos e irlandeses pra servir mesas e empilhar tijolos que o crescimento ingles se fez: gente de paises com educação de alto nivel subsidiada (como na frança, alemanha ou mesmo as natas de portugal, grecia e irlanda) vieram pra cargos altos. E quando o Acordo de Schengen chegou no leste europeu o processo so foi intensificado. É por isso que apesar de tantos empregos criados nos anos de bonanza de Tony Blair o desemprego total não mudou proporcionalmente ao crescimento economico. They took our jobs! (bem, na verdade they took the jobs we didn't have in the first place, mas acho que fica grande demais).


Um comentário:

Eduardo Ferreira disse...

Engraçado pensar que logo a mineiração e os mineiros, força matriz da revolução industrial inglesa, motivo da renúncia de Ted Heath em 74 e que nos anos 80's foram grande parte da energia que sustentava essa ilhota, incomodar tanto a Dama de Ferro não é?

Acho que eles não estavam errados, já que sua organização sindical acabou causando uma das maiores demissões em massa, uma excelente forma para iniciar greves, um inverno terrível, descontentamento social e fome digasse de passagem.

Essa batalha pessoal de Thatcher ao vencer os sindicatos, tanto moralmente quanto no pensamento dos próprios ingleses (que tinham sua maioria favorável a causa dos mineiros até então), para mim foi um tolhir da força sindical.

Pensando nisso tudo fico realmente com um pé atrás sobre o Brasil poder depender tanto de uma mega empresa como a Petrobrás.

Vai saber quando o processo de privatização provar que vale mais a pena do que sustentar cargos e desvios internos.

Ah, que asneira... quem iria abrir a barriga da galinha de ouro não é mesmo?