quarta-feira

doxa 2

Em setembro o senado francês vota sobre a lei de banir o véu, que já foi aprovado com imensa maioria na câmara. Não é que a classe política francesa seja composta somente de islamofóbicos (imagino), mas os típicos defensores do multiculturalismo são sempre à esquerda, e a esquerda francesa tem um pé feminista importante, o que acaba deixando a burqa sem muitos amigos por lá.
A coisa toda só revolta quem pensa que a França (e o resto da europa) é o ápice do iluminismo humanista cosmopolita, o apogeu da tolerância e progressismo multicultural, blablabla. Fica tudo mais compreensível quando encarado sob a seca perspectiva de que alguns bárbaros maometanos tem seus custumes de impor certas limitações indumentárias em suas mulheres, e os bárbaros franceses estão fazendo valer seus valores de impor certas limitações indumentárias em quem quiser pisar na França. Ninguém seria tolo o suficiente pra chegar em Meca e ficar revoltado porque as mulheres não se misturam com os homens na hora da oração, por que ficar escandalizado se uma regra igualmente arbitrária é imposta se você vai à França?
E não é um simples conflito entre ocidente cristão (os ingênuos gostam de falar em laico, agnóstico, ateu, etc) e muçulmanos: a Turquia moderna sempre teve problemas com o véu, e não só ela. O relativismo cultural pode ser uma resposta preguiçosa pra questão, mas imagino que certos tipos de estruturas sociais são mais robustas pra esse tipo de questão: ao invés de depender de valores morais superiores de aceitação da diferença, certos sistemas nem consideram uma peça de roupa uma questão tão importante assim -desconfio que essa seria mais ou menos como a questão seria vista no Brasil.
Em relação a Inglaterra é mais ou menos parecido -quando o ministro da imigração (Damian Green, do atual governo conservador) foi perguntado se aqui se seguiria a onda de banir a burqa, ele disse simplesmente: "Telling people what they can and can't wear, if they're just walking down the street, is a rather un-British thing to do."

Um comentário:

Eduardo Ferreira disse...

engraçado estava discutindo com o gui sobre isso por esses dias.

ainda acho escroto impor qualquer pessoa a escolher suas indumentárias em qualquer lugar que seja. tirando o fato da burca nitidamente ser incômoda mais por potencial de carregar algo por baixo além de curvas me faz crer que a relação é maior do que comparar obrigações religiosas e culturais do que liberdade de direitos femininos.