Fhc é um zumbi político. Já desde 2003, quiçá antes. Se não fosse pelo PIG, nem as enfermeiras do asilo lhe dariam ouvidos. Completamente irrelevante pra realidade política atual, o príncipe dos sociologos amarga hoje em dia o fato de que os vencedores é que escrevem a história. Qualquer que tenham sido seus méritos como presidente por oito anos, não é negocio pra ninguém relembra-los em bom tom.
O PT, que sempre antagonizou ferozmente todo governo que não do próprio PT, não tem dificuldade em repetir a mesma história anti-privatização, que não fazia sentido na época, e menos ainda hoje em dia quando os resultados são óbvios pra qualquer um com celular. O mesmo pros partidécos de esquerda.
E a "direita" tambem nunca foi grande fã do morto-vivo. Não sei exatamente por que motivo, se por alguma ação de governo como a Lei de Responsabilidade Fiscal (que diminuiu um pouco o poder dos coronéis e a loucura administrativa do executivo), ou só uma saudável suspeita de que o culto à personalidade acabaria convencendo o próprio adorado a não sair mais da política. Se os colegas do PMDB maranhense tivessem a ambição que Serra, Alkmin e o resto dos tucanos paulistas tem, quem sabe o Brasil não tivesse na sua quinta ou sexta década de ser parasitado pelo Sarney.
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Eis que então fhc decide que não é suficiente ser só irrelevante, é necessario justificar intelectualmente o porquê de ninguém prestar atenção no que ele pensa. Escreve uma longa e maçante pseudo-análise da realidade política do Brasil. Alguns atribuem ao texto um academicismo impenetrável, como um artigo de sociólogo. Pouco provável, porque a sociologia é um corpo teórico que embasa suas hipóteses de acordo com dados empíricos. Nada disso existe no texto. Evidentemente que prestar atenção em pesquisas, números e fatos não é o forte do ex-presidente.
Considerar esse folhetim como um mapa estratégico para a oposição também é de gosto duvidoso. Em uma das suas brilhantes considerações práticas sobre o que fazer, fhc diz que "Mais ainda: é preciso persistir, repetir a crítica, ao estilo do "beba Coca Cola" dos publicitários." Não so é infantil, raso, ofensivo a inteligência do eleitor, como meramente ecoa o que o PIG vem fazendo sem sucesso desde 2003. E olhe que o principe está falando de como se conquista a parte de educada do Brasil, porque o Povão, esse só deve entender esmola ou chicote.
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Uma dica para o ex-presidente: sempre que o senhor se sentir mal quando ouvir alguém repetir que houve compra de votos para a aprovação da re-eleição, ou que o esquema de privatizações foi feito com cartas marcadas para grande prejuízo do contribuinte, lembre-se que seu governo, em especial seu engavetador-geral, é que impediu as investigações que resolveriam o assunto. E convenhamos, chamar sua brilhante descoberta do poder das medidas provisórias de "modo lulista de governar" é de uma modéstia inacreditável.
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O miolo do texto é confuso e desconexo, mas não o suficiente para quem entende de onde os memes que fhc reproduz vem. A tara com o raciocínio de redes de Castells; a movimentação "grass-roots" da militância que elegeu Obama; a idéia de que a internet propiciou as inquietações no mundo árabe; e a óbvia noção de que o povo entende a política pelos seus resultados cotidianos, e não por abstrações esdrúxulas sobre ideologias. A originalidade do autor assusta mesmo o mais ardente defensor do príncipe, e sou obrigado a lembrar que quando o PIG (desimpressionantemente) divulgou que fhc era a favor da descriminalizacao das drogas, a Economist tinha manifestado a mesma opinião na mesma época...
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A única parte do texto que poderia ser levada a sério como um documento de oposição é um parágrafo que trata das arcanas complicações de política monetária do governo, como juros, dívidas e movimentações financeiras obscuras. O grande problema desses pontos (além da verdadeira dificuldade do leitor de entender o que diabos o príncipe quer dizer) é que o ex-presidente mandou nos oito anos nos quais o Brasil teve os piores juros, dívidas e movimentações financeiras obscuras. Querer passar uma imagem de saneamento econômico usando fhc como garoto propaganda é como tentar usar o ex-presidente lula para promover a educação.
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A verdade é que o texto é muito longo e mal escrito. O trecho do Povão é realmente o núcleo desse folhetim, e a repercussão pela internet (porque claro que o PIG não divulgaria essa pérola da velha elite politica) dessas poucas linhas é completamente adequada. O único ajuste que eu faria a esse recorte seria a inclusão de uma frase duas linhas acima, onde o príncipe constata que no Brasil "As oposições se baseiam em partidos não propriamente mobilizadores de massas." Um verdadeiro testemunho à profundidade do intelecto de fhc.
Bônus -minha frase gigante favorita dessa verdadeira flor do lácio, digna de um imortal:
"Antes de especificar estes argumentos, esclareço que a maior complexidade para as oposições se firmarem no quadro atual comparando com o que ocorreu no regime autoritário, e mesmo com o petismo durante meu governo, pois o pt mantinha uma retórica semianticapitalista não diminui a importância de fincar a oposição no terreno político e dos valores, para que não se perca no oportunismo nem perca eficácia e sentido, aumentando o desânimo que leva à inação."
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