segunda-feira

Neuras 2


Suavisando o tom arrogante da postagem anterior, vamos deixar as coisas mais didáticas. Antes de qualquer coisa, do começo: um monte de dados não explicam nada. Todo mundo que olha pra um macaco vê que se parece (e deve ser aparentado) com um ser humano, mas essa é uma idéia recente. Os ossos de dinossauros, que abundavam em escavações desde sempre, nunca criaram teoria nenhuma, foi preciso uma abstração genial pra encaixa-los num esquema. Os mesmos dados podem ser entendidos de diversas maneiras, e é desgraçadamente complicado tentar achar nas coisas algo que justifique o que nós pensamos delas.
Aliás, é fascinante como o mundo foi (e é) visto de maneiras tão diversas e coerentes por diferentes sistemas culturais. As religiões são o melhor exemplo, mas não o único. Mesmo a tentativa organizada de sistematizar o conhecimento (que hoje atende pelo nome enganador de Ciência) já teve "verdades" bem mirabolantes. E tudo isso com os mesmos dados. Exemplo fascinante? Leia esta pérola e fique de cara com o quanto o saber medieval faz sentido.
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Algumas nuances da perspectiva pragmática me agradam, e eu considero seriamente que o proposito atribuido ao conhecimento formata parte do que é visto como "verdadeiro", "útil", ou "científico". Exemplo: a medicina está (grosso modo) muito mais (pre)ocupada em saber como resolver os sintomas do que em entende-los. Claro que é útil entender o mecanismo de funcionamento das patologias, mas isso é definitivamente secundário. A história da aspirina é um caso disso -usada refinadamente desde 1899, só foram descobrir seu mecanismo de funcionamento no cérebro nos anos 1970. Ou o grande ganhador do premio Nobel de Medicina em 1949, o português Egas Moniz, que foi premiado por ter inventado uma cirurgia cerebral (uma versão melhorada da infame lobotomia) tão útil que é proibida hoje em dia. O fato é, tanto faz como funciona, deixava os epiléticos quietinhos (que é uma definição bacana de cura pra psicopatologias). Um de seus pacientes, no entanto, não estava curado o suficiente e baleou o médico (provavelmente devido a uma crise de abstinência).

*Anexo politicamente correto: mesmo a idéia de que todos os seres humanos são "iguais" (biologicamente a mesma espécie, a mesma coisa) é uma idéia recentíssima e não muito divulgada. Até hoje são vários os sistemas de crenças que dão status metafísico diferenciado pra homem e mulher, por exemplo, isso pra não falar nada dos que não se encaixam na dicotomia.

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